Quarto Amarelo
Andando pela rua, o garoto acaba se lembrando, mesmo tendo evitado pensar sobre o assunto, do cubículo amarelo com o qual sonhou.
Ele perde o ar, sua frio e pensa estar de volta ao sonho. Depois de respirar algumas vezes, ofegante, percebe que caiu no meio da calçada, se recompõe e volta as suas atividades diárias.
Mas as visões foram se tornando cada vez mais frequentes e duradouras. Às vezes, sentia que passava mais tempo olhando para as quatro paredes amarelas e lisas daquele odioso quarto, do que vivendo seus dias normalmente.
A memória dele sempre ficava bagunçada quando as visões apareciam, e ele não conseguia entender como seu corpo podia continuar vivendo e agindo sem o seu comando.
Um dia no entanto, resolveu contar quantos segundos passou preso nas visões. 30 segundos, 90 segundos, 1.300 segundos, 3.600 segundos, 86.400 segundos. Um dia. Um dia inteiro!
Quanto tempo permaneceria ali? Semanas? Meses? Anos!?!?
O garoto finalmente começou a se mover e a buscar uma saída daquele cubículo infernal, algo nas paredes amarelas que se mostrasse diferente. Mas nada. Eram perfeitamente lisas, sem calos, portas, janelas ou erros de pintura.
Entrando em desespero e começando a chorar, sentiu um pingo na cabeça. Estava chovendo dentro do quarto, uma chuva tão vibrantemente amarela quanto o resto do espaço. E quanto mais chorava, mais o quarto enchia.
Até que transbordou.
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